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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Seção "Post Parceiro": Testando o Sistema de Saúde Público Australiano

Hoje vou publicar o segundo POST PARCEIRO, seção em que textos de leitores do blog são publicados aqui. Se você perdeu o primeiro, clique AQUI para ler. Se quiser participar da seção e ver seu texto publicado no blog e lido pelos mais de 5 mil visitantes mensais, envie o seu texto (que pode ser sobre qualquer assunto relativo à Austrália) para duslompo@yahoo.com.br o quanto antes!

Essa parceria é com o leitor Diego Doi, um paulistano de 26 anos que morou em Sydney por 6 meses e voltou pro Brasil em Fevereiro. Ele é Analista de Sistemas e começou a seguir o blog em Outubro de 2012, que foi quando decidiu vir pra Austrália fazer um intercâmbio. Os posts que ele mais curtiu no blog foram a Série Sobre a Tailândia, a Série de Curiosidades e o post sobre a Areia Mais Branca do Mundo. O texto dele é um relato sobre quando ele "travou a coluna" e foi "forçado" a testar o sistema de saúde australiano. Tem várias dicas importantes pra quem pensa em vir pra cá com visto de estudante.

Valeu pela participação, Diego!


Testando o Sistema de Saúde Público Australiano
(por Diego Doi)

Dia 26 de janeiro de 2014, Domingo dia do Australian Day, fui tomar meu banho para sair para a celebração. Ao sair do banho, fui inclinar para pegar minha roupa no chão e travei a coluna. Foi uma dor insuportável, impossível de andar. Fui para minha cama (não sei como) e esperei durante 2 horas a dor passar, mas não passou.


A primeira coisa que pensei foi "e agora, o que vou fazer?" Quando fechei o intercâmbio, a explicação sobre o seguro saúde foi muito superficial. O seguro saúde, chamado OSHC (Overseas Student Health Cover) é obrigatório para os estudantes brasileiros, e normalmente quando você recebe a proposta de estudo (independente do curso), o valor do OSHC vem descrito (para maiores informações sobre o OSHC, visite o site da saúde da Austrália AQUI  e o link de perguntas frequentes AQUI).


No meu caso, eu nem tinha recebido a carteirinha do plano de saúde, então lá vai a primeira dica pra quem pretende vir pra Austrália com visto de estudante: além de abrir conta no banco e solicitar seu TFN (Tax File Number), solicite sua carteirinha do seguro saúde (na sua escola ou na sua agência).


Bom, voltando à minha experiência: eu chamei minha "mãe" aqui na Home Stay para me ajudar a levantar, porém foi sem sucesso. Não sabíamos se o seguro cobria ambulância, então ligamos para o BUPA (meu seguro), mas eles não souberam nos informar. Depois de muito procurar, achei no site da saúde da Australia que todos os seguros devem cobrir esse tipo de serviço, aí então ela ligou no serviço da ambulância, que é o número 000 (para maiores informações de como solicitar uma ambulância, clique AQUI).



Uniforme dos paramédicos de NSW
Após solicitar uma série de informações, eles chegaram em 20 minutos (acredito que depende da criticidade do assunto). Em geral, eles podem vir sozinhos ou em dupla. No meu caso, vieram em dupla, e antes de analisar/tratar, eles fazem uma série de perguntas: aonde está a dor, qual a intensidade da dor de zero a dez, se já tinha acontecido isso antes, o que aconteceu na semana que se passou, histórico da família, se tomou remédio, se tem alergia, bronquite, asma, histórico de cirurgias.

Depois das perguntas eles analisam seus sinais vitais (pressão, olhos, língua) e começam o tratamento. No meu caso, eles me deram um remédio para inalar e magicamente eu consegui levantar para ir até a ambulância. Eles me deram duas opções de hospitais públicos para me levar, e optei pelo mais próximo de casa.


Ambulância que me levou
A ambulância era muito bem equipada e o serviço dos paramédicos para mim foi nota 10. Chegando ao hospital, o time dos paramédicos entrou na frente, iniciaram a ficha e logo em seguida a enfermeira me chamou para pegar o restante das informações. Antes de tudo, a enfermeira mede novamente a pressão. Ponto importante: não se esqueça de levar seu passaporte, carteirinha do seguro e informações de contato. No meu caso, levei meu CoE, porque não tinha a carteirinha. Por isso é importante providenciá-la.

Leitos separados pela "divisória"
A enfermeira verificou se havia leito disponível, e fiquei num quarto. Em geral, para antedimentos aos "residentes", eles oferecem os leitos compartilhados, separados por uma "divisória". Chegando ao quarto, fui atendido novamente por outra enfermeira. Tive que contar novamente toda a história para ela e responder às mesmas perguntas que o paramédico e a primeira enfermeira haviam feito.

Após responder, ela me deu um medicamento e sumiu. Uns 40 minutos depois chegou outra mulher, acreditei que era enfermeira, mas depois fui descobrir que ela era médica. Ela me fez as mesmas perguntas anteriormente já respondidas, falou com a enfermeira e sumiu novamente.

Depois de mais 30 minutos, a enfermeira e ela voltaram e perguntaram se eu estava melhor. Não estava, e não conseguia me mover. A médica pediu pra eu tentar levantar o pé, mas estava doendo demais. Deram-me mais remédios e ficaram nessa "rotatividade" por quase 3 horas. Após perceberem que a dor não estava indo embora, resolveram fazer um raio x. Após o raio x, a doutora me pediu de novo pra que eu tentasse levantar, mas estava impossível.

Agora um detalhe: a enfermeira e a médica que me atenderam eram coreanas, e no hospital dava pra perceber que também haviam muitos médicos e enfermeiros indianos. Após mais uma hora apareceu uma médica australiana, com um uniforme de médica (geralmente eles são identificados no seu uniforme), e me explicou a situação, e pediu para que eu tentasse levantar. Fiz o maior esforço possível, minha pressão abaixou duas vezes. Era difícil ficar sentado...

Mas depois da terceira tentativa consegui levantar (com a ajuda de uma bengala) e caminhar até o banheiro. Após ver isso, a médica coreana abriu um sorriso e disse: "Que ótimo, agora você pode ir pra casa!"... Sim, ela disse isso, virou as costas e foi providenciar minha saída. Eu fiquei meio bravo, pois estava doendo demais, e gostaria de saber o que estava acontecendo (se era apenas muscular, problema de hérnia de disco, nervo ciático etc), porém nenhuma delas soube me explicar. Ela me deu um papel escrito “GP” e fui embora. Peguei um taxi com muita dor e fui pra minha casa, onde fiquei em repouso.

Todos os dias de manhã minhas costas doíam bastante, eu tinha bastante dificuldade em andar, mas no final do dia as coisas melhoravam. A receita que foi fornecida pelos médicos do hospital era de poucas medicações e iria durar apenas até quarta-feira (29/01). Passei a tomar junto um remédio que você encontra facilmente nas farmácias chamado Panadeine.


Aqui na Australia a venda de medicações é igual no Brasil: necessita de receita médica para remédios mais fortes, mas você pode comprar, sem receita, alguns analgésicos, antiinflamatórios e antidor. Os principais são Panadeine, Panadol e Nurofen. Meio sem entender porque a receita médica tinha um tempo curto, tomei até dia 29/01, junto com o Panadeine.

Quando acordei dia 30/01 a dor estava impossível, e comecei a ficar preocupado pois não sabia o que estava havendo (por falta de informação dos outros médicos). Falei com minha flatemate, que por sua vez não poderia me levar no hospital naquela manhã. Ela sugeriu novamente ligar para a emergência.

Novamente, o serviço dos paramédicos foi espetacular. Veio uma paramédica, sozinha. Perguntou todo o histórico e, além de medir a pressão e temperatura, fez um eletrocardiograma em mim. Ela perguntou porque não fui no Local Doctor e eu, sem entender, perguntei: "O que é Local Doctor?".

Ela me explicou e só então entendi o motivo da sigla "GP" no papel que me foi dado quando sai do hospital: GP significa "General Practitioner", nosso famoso "Clínico Geral". Aqui na Austrália, antes de ir para qualquer especialidade médica você precisa passar pelo "GP". E então entendi o motivo da pouca medicação.

A paramédica me explicou que, para os hospitais, dor (independente dequal seja o motivo) não é considerada emergência. Eles vão apenas sanar essa dor e te liberar, para você então procurar o Clinico Geral e dar continuidade ao procedimento. Confesso que fiquei meio chocado com isso. No Brasil, sempre que precisei de hospitais em casos de emergência, fui submetido a uma bateria de exames, raio-x e até ressonância magnética, para saber a causa ou danos dos acontecimentos sofridos.

A paramédica me deu bastantes medicamentos, mas continuei com a "cara de dor" pois queria saber o que estava acontecendo. Então fomos para um hospital diferente do da primeira vez. Chegando lá fui muito bem atendido e percebi que cerca de 90% dos funcionários eram de origem australiana.

O procedimento foi o mesmo do hospital anterior, porém o atendimento foi melhor. Eles me deram remédios e perguntaram as mesmas coisas, mas não queriam me submeter a exames. Um fisioterapeuta chegou, me analisou, fez algumas perguntas e falou que precisava de um raio-x e de uma ressonância magnética, porém só tinha agenda pro dia seguinte.

Ele perguntou sobre meu seguro (BUPA), falou que achava que cobria tudo, e deu prosseguimento. Eis que fui para um quarto compartilhado. Chegando no quarto, fui recebido por 5 médicos, muito bem vestidos (social com gravata), perguntaram algumas coisas e falaram que no dia seguinte (isso já eram 15hs) passariam para ver se estava melhor. Logo em seguida uma mulher do centro de saúde de NSW me procurou para fazer uma ficha, onde teria que dar um "agree" nas condições do hospital.

Nessa hora começou a parte ruim da Austrália. Ela falou que eu teria que pagar cerca de 1000 dólares para ficar no hospital naquela noite, incluindo exames, medicamentos, etc. Perguntei com quanto o seguro iria arcar e falei que não tinha condições de pagar isso. Ela ficou de ligar no seguro para descobrir, mas não me deu nenhuma informação.

Resumo: Acabei indo pra casa. Peguei outra receita (também temporária), falei com uma enfermeira, que sugeriu continuar utilizando os remédios citados acima, junto com uma pomada (tipo gelol, salompas) e me alongar.

Conclusão: Apesar da Austrália ser um país de primeiro mundo, a parte da saúde às vezes deixa a desejar (exceto a parte dos paramédicos e serviços de ambulância). Para nós estudantes, não residentes ou turistas, é importantíssimo se informar em relação ao seguro, o que ele cobre, qual a porcentagem que será reembolsada, o que está incluso, quais são nossos direitos etc.

Além disso, o seguro tem uma série de médicos conveniados, farmácias e outro tipo de benefícios. Se informe na sua agência ou com o próprio seguro! Antes de vir para cá, faça um checkup geral, inclusive com o dentista, porque uma das coisas que o seguro não cobre são tratamentos odontológicos.

UPDATE 19/09: Depois de várias pessoas deixarem comentários perguntando o que aconteceu no fim, pedi pro Diego contar e ele deixou um comentário bem sucinto explicando, que reproduzo a seguir:

Fala pessoal, sou eu, o Diego. No caso, eu não procurei nenhum médico e depois de 1 mês a dor parou. Quando voltei pra SP, fiz uma ressonância e constatei que tinha uma fratura na coluna, mas nada grave. :)


8 comentários:

Unknown disse...

E o que rolou no final??
qual era o problema? faltou essa parte =/

Erlon disse...

É... qual foi o desfecho? Vc melhorou??

Anônimo disse...

Só faltou o final.....

Anônimo disse...

E ai? Voltou ao BR ainda doente?

E.S

Diego Doi disse...

Fala pessoal, sou eu o Diego. No caso, eu não procurei nenhum médico e depois de 1 mês a dor parou. Quando voltei pra SP, fiz uma ressonância e constatei que tinha uma fratura na coluna, mas nada grave. :)

Eduardo Slompo disse...

Valeu, Diego! Já atualizei o post! :)

Unknown disse...

Eduardo,

Fiquei meio confuso, pois não consegui chegar a uma conclusão sobre a saúde pública na Austrália. Afinal, é um serviço de qualidade como se espera de um país primeiro mundo ou varia conforme hospital/situação do paciente? Podemos dizer que para um estudante, residente temporário, o tratamento é diferente do prestado para um residente permanente? Conseguiria passar para nós suas impressões a respeito do assunto? Será que um cidadão/residente permanente também teria que pagar para passar a noite naquele segundo hospital do relato, que parecia ser de melhor qualidade?

Abraços!

Eduardo Slompo disse...

Vixi, Flavio, esse tema é complicado, daria pra escrever um livro... :)

As pessoas têm opiniões diversas a respeito do assunto, conforme a experiência que cada um teve. Eu vou me limitar a dizer que acho bom, mas essa opinião não é unânime, tem muita gente que não concorda.